Leah, Felix, Natalie e Nathan protagonizam o
quarto romance de Zadie Smith (n. 1975), intitulado NW, as iniciais do código postal da zona de Willesden, onde fica Caldwell,
o bairro social (fictício) onde cresceram e (à excepção de Felix) se conheceram.
«NW, um lugar pequeno» serve a obra
mais experimental desta talentosa autora inglesa, encruzilhada de vidas que se
tocam na grande cidade.
Durante sete anos, Zadie Smith criou e limou esta «novela negra» como «expressão genuína da [sua própria] existência», uma mistura de crónica
sobre a (i)mobilidade social e excursão existencial. Para isso, regressou ao
espaço multi-étnico no noroeste londrino onde cresceu, pobre, filha de uma
jamaicana e de um inglês e a primeira da família a frequentar a universidade. Seguiu-se
um intenso trabalho de fusão das técnicas modernistas (com fortes influências
de Virginia Woolf e James Joyce) e realistas (E.M. Forster ainda anda por aqui,
mas é sobretudo Dickens o fantasma de parte da obra).
Assim nasceu esta tragicomédia em cinco partes, cada
uma concentrada num dos protagonistas e com técnica e tom próprios. O diálogo permanece
o prato-forte, mas a proposta é bem menos divertida e mais pessimista do que as
anteriores. Ilustrando problemas sociais e dilemas morais, NW é assumido na linha das peças-problemas de Shakespeare. Aqui, as
personagens movem-se no tempo, mas estão suspensas, sem solução, num território
físico e interno.
NW, Zadie Smith, Dom Quixote, 411 págs., 17.45 euros
SOL - 08/11/2013
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)