Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Amy Waldman | O jardim do luto



Como inscrever um passado trágico num monumento que deixe espaço para a recuperação do futuro? A questão foi muito discutida durante a seleção dos projetos arquitectónicos para o berlinense Memorial do Holocausto (2005, Peter Eisenman) ou para o nova-iorquino Memorial 9/11 (2011, Michael Arad). No romance A Submissão, Claire Burwell, representante das famílias das vítimas no júri para a escolha do monumento a ser erigido no Ground Zero, afirma: «Antes de endurecer e parecer que nunca tinha sido de outra forma, a História era líquida, fluida.» É a consciência e a gestão minuciosa dessa fluidez que cimenta as maiores virtudes desta obra de estreia da jornalista Amy Waldman (ex-repórter do New York Times), editada em 2011 e aclamada como o melhor romance sobre o 11 de Setembro escrito até à data.
O cenário amplo em discussão política de A Submissão parte da controvérsia desencadeada pela vitória do projeto de um arquiteto muçulmano-americano, Mohammad Khan, de 37 anos, no concurso anónimo para o memorial. Entendido por uns como uma nova ameaça do mundo islâmico sobre a América, por outros como uma forma de reparação e conciliação, o jardim com árvores de aço de Khan transforma-se numa metáfora para avaliar o choque entre a islamofobia pós-11 de Setembro e os valores fundadores da democracia americana. Khan, tratado como «semideus ou semiaberração», convictamente secular e irredutível em não justificar a sua proposta, acaba por submeter-se («muçulmano» significa «aquele que se submete») ao peso da responsabilidade individual no curso coletivo de um processo de luto. Atenta a cada figura que põe em cena e às suas motivações, mas com mão treinada de jornalista para compor os movimentos de um painel social credível, Amy Waldman dá vida a psicologias múltiplas enquanto retrata toda a complexidade de um momento histórico. A Submissão transforma-se, assim, num romance-monumento, com uma sensibilidade cortante e de leitura compulsiva.

A Submissão, Amy Waldman, Teorema, 416 págs., 16 euros

SOL/ 07-09-2012
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)