São seis volumes para 3500 páginas confessionais,
de que se venderam cerca de 500 mil exemplares só na Noruega, país de origem do
autor, Karl
Ove Knausgård (n. 1968). Provocatoriamente
intitulado A Minha Luta (Min Kampf),
este ciclo de romances, lançado entre 2009 e 2011, chega a Portugal em Outubro,
com a publicação do primeiro volume, sobre a morte do pai de Knausgård. Será a leitura mais voyeurista desta rentrée e a
aposta editorial mais arriscada, assumida como «um projecto demencial» pela Ahab, pequena editora de ficção
traduzida criada pelos advogados portuenses Joana Pinto Coelho e Tiago Szabo em
2008 e já detentora de um espaço único no mercado português. Acusado de violar
de forma radical a privacidade de familiares e amigos, Knausgård
defende a sua obra, negando tratar-se de uma autobiografia, mas, sim, de uma
investigação sobre a sua própria identidade ao jeito de Proust e uma saga sobre
os pequenos e grandes combates da vida quotidiana.
Das
apostas desta rentrée na estreia em ficção por autores portugueses,
destaquem-se o primeiro romance da poeta Ana Luísa Amaral (Ara, Setembro, Sextante) e os romances de estreia dos jornalistas Raquel
Ribeiro (Este Samba no Escuro, com
Cuba ao fundo, Outubro, Tinta-da-China) e Bruno Vieira Amaral (apresentado pela
Quetzal para Outubro, como «um mosaico
de personagens marginais, inesperadas, carregadas de histórias peculiares»).
Por seu turno, sairão, em Setembro, novos romances de Pepetela (O Tímido e as Mulheres, D. Quixote), Valter
Hugo Mãe (A Desumanização, agora
pela Porto Editora), David Machado (Índice
Médio de Felicidade, D. Quixote), José Rodrigues dos Santos (pela Gradiva e
ainda envolto em secretismo) e Ana Cristina Silva (A Segunda Morte de Anna Karénina, Oficina do Livro). Em Outubro,
será a vez de novas ficções de Richard Zimler (A Sentinela, agora pela Porto Editora), Alice Vieira (ainda sem
título, D. Quixote) e Miguel Real (Romance
de Macau, D. Quixote), de um pequeno romance póstumo de Urbano Tavares
Rodrigues (Nenhuma Vida, D. Quixote)
e do mais recente thriller do norte-americano
luso-descendente Daniel Silva (Anjo
Caído, Bertrand). Em Novembro, haverá novo romance de Rita Ferro (ainda sem
título, D. Quixote). Na área do conto, aguarde-se o inédito A Liberdade de Pátio, de Mário de
Carvalho (em Outubro, pela Porto
Editora, aquando da homenagem prestada ao autor no festival Escritaria, em
Penafiel).
Quanto à
ficção estrangeira contemporânea, preparem-se, já em Setembro, para os mais
recentes romances de J. M. Coetzee (A
Infância de Jesus, D. Quixote), Mario Vargas Llosa (O Herói Discreto, Quetzal) e A. M. Homes (Assim Para Nós Haja Perdão, Women’s Prize for Fiction 2013, Relógio
d’Água) e para a edição de O Menino de
Cabul, de Khaled Hosseini (Presença) e do recente livro de memórias Relatório do Interior, de Paul Auster
(Asa). A autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie estará em Lisboa no final
deste mês para promover Americanah (D.
Quixote), romance ambicioso sobre a imigração e as questões da raça nos EUA e
no Reino Unido. Em Outubro, será a vez de NW,
de Zadie Smith (D. Quixote), de mais um título de Haruki Murakami pela Casa das
Letras, de Vida Depois da Vida, de
Kate Atkinson (Relógio d’Água), e O
Conselheiro, de Cormac McCarthy, que aterra nos cinemas um mês depois,
adaptado por Ridley Scott. Já em Novembro, abram espaço na estante para o novo
de Julian Barnes (Variações da Vida,
Quetzal), Os olhos têm ouvidos no jardim
da minha casa, estreia da cantora brasileira Vanessa da Mata (Quetzal), Dinheiro: Uma Biografia Não Autorizada,
de Felix Martin (finalista do Guardian Book Award, Círculod e Leitores/Temas e Debates), O Vígaro, de John Grishman (Bertrand) e Serena, de Ron Rash (Presença, finalista do Pen Faulkner 2009; o filme homónimo estreia em Portugal em Dezembro)
Quanto à
poesia, em Setembro, surgem os quatro primeiros livros da obra poética toda de
Sophia de Mello Breyner Andresen pela Assírio & Alvim e uma Antologia Poética de Natália Correia (D.
Quixote), organizada e prefaciada por Fernando Pinto do Amaral —Fernando
Dacosta lança entretanto O Botequim da
Liberdade (Casa das Letras), registo de como Natália «marcou, a partir de um pequeno bar de Lisboa, o século XX português.
Em Outubro, sairá A Dama e o Unicórnio,
de Maria Teresa Horta (D. Quixote) e, em Novembro, O Nome Negro, de António Carlos Cortez, pela Relógio d’Água,
editora que também nos presenteia com uma Antologia
Poética de Emily, Anne e Charlote Brontë, traduzida por Ana Maria Chaves.
Às
prateleiras dos clássicos, chegará em Outubro, pela Relógio d’Água, um segundo prato
forte editorial: a nova tradução portuguesa de Ulysses, de James Joyce, por Jorge Vaz de Carvalho (a obra foi traduzida no Brasil por Antônio Houaiss em
1966 e, a partir deste, em Portugal, por João Palma-Ferreira, em 1989). Nesse
mesmo mês, a editora lança nova tradução de Guerra e Paz, de Tolstoi, por António Pescada, e, em Novembro, Bem
Está O Que Bem Acaba, de W. Shakespeare, traduzido por M. Gomes da Torre. Destaque
ainda para Pnin, de Vladimir
Nabokov, e O Desconhecido do
Norte-Expresso, de Patricia Highsmith (ambos em Setembro, pela Relógio
D’Água), Tudo Passa, de Vassily
Grossman, e A Irmã, de Sándor Márai
(ambos em Outubro, na D. Quixote), Contos
de Thomas Mann (Outubro, Bertrand), Na
Corda Bamba, de Saul Bellow (Novembro, Quetzal), Mason & Dixon, de Thomas Pynchon (Novembro, Bertrand) e para
mais dois volumes da colecção de obras de Fernando Pessoa coordenada por
Jerónimo Pizarro para a Tinta-da-China: em Outubro, sai Livro do Desassossego com edição de Pizarro após um regresso às
fontes do texto; em Novembro, surge Eu
Sou Uma Antologia, inventário dos 136 autores inventados por Pessoa e
identificados por Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari nas cerca de 30 mil
folhas do espólio pessoano.
Anotem-se
ainda na lista de eventuais compras de livros nesta rentrée os ensaios Enxaqueca, de Oliver Sacks, e O Ano Em Que Sonhámos Perigosamente, do
filósofo esloveno Slavoj Zizec, ambos previstos para Setembro, na Relógio
D’Água. Em Outubro, chegarão, pela Quetzal, o mais recente livro ensaístico de
Claudio Magris (Alfabetos) e uma
recolha dos ensaios de David Foster Wallace (Uma Coisa Supostamente Divertida Que Nunca Mais Vou Fazer). Na
colecção de livros de viagens da Tinta-da-China saem, em Setembro, Mais Um Dia de Vida: Angola 1975,
relato de Ryszard Kapucinski prefaciado por Pedro Rosa Mendes, e, em Novembro, Big Bang Brasil, de Alexandra Lucas
Coelho, e o curiosíssimo Dicionário de
Lugares Imaginários, levantamento feito por Gianni Guadalupi de 1200
lugares imaginários na história da literatura, com prefácio de Alberto Manguel.
Entretanto,
a Gradiva lança, em Outubro, O Início do
Infinito, do físico David Deutsch, e o clássico de gestão Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes,
de Stephen R. Covey, e, em Novembro, reedita o esgotadíssimo clássico sobre
computação e inteligência artificial Gödel, Escher e Bach, de Douglas
Hofstadter. Para entender o cenário económico actual, leiam-se O Preço da Desigualdade, do Nobel de
Economia Joseph E. Stiglitz (Setembro, Bertrand), Austeridade: A História de Uma Ideia Perigosa, de Mark Blyth
(Outubro, Quetzal) ou, em Novembro, um ensaio sobre como sobreviver a uma crise assinado por Isabel Santos, jornalista
de economia da TVI, para a Gradiva. Na área da história, destaque para Um Agente Português na Roma do Renascimento, investigação assinada por Paulo Lopes
a partir de manuscrito inédito de um fidalgo português que foi agente secreto
da corte portuguesa em Roma no séc. XVI (Setembro, CL/Temas e Debates). A
fechar o ano e já perto do Natal, chegarão às livrarias dois dos seis livros
infantis de recriação e efabulação de episódios-chave da Bíblia assinados por Dulce Maria Cardoso e ilustrados por Vera
Tavares para a Tinta-da-China.
SOL/ 30-08-2013
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)