Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

domingo, abril 14, 2013

Vergílio Ferreira | Do impensável




É o décimo sétimo dos 38 títulos da Obra Completa de Vergílio Ferreira (1916-1996) a que a Quetzal se propôs. Datado de 1992, ano da atribuição do Prémio Camões, Pensar regressa às livrarias esta semana. Distingue-se dos nove volumes de Conta-Corrente porque se assume como outra espécie de caderno de anotações diarísticas. Trata-se de uma compilação do «esparso e desordenado e acidental do “fragmento”», de textos «do acaso de ir pensando». Vergílio Ferreira sempre escolheu com propriedade os seus títulos e este caso não foge à regra. Pensar é um livro que é um ato e a sua expressão. O autor pensa e pensa-se, como apontou a escritora Fernanda Botelho, com «alguma intelectual», mas «magnífica arrogância»: a dos aforismos e das máximas éticas, estéticas, existencialistas. Daí que este retrato do pensamento de um homem com 76 anos seja propício, por parte do leitor, ao sublinhado, à citação, à anuência ou à embirração. Contudo, a sua essência é, sempre, a responsabilidade e a suposta incerteza de quem escreve.
«A crença forte é do jovem como o cepticismo é do velho», afirma o escritor. Já no prefácio, «Do Impensável», salientara que só atingimos um «equilíbrio interior» se relacionarmos a nossa liberdade com o «incognoscível de nós». O que não pensamos ou discutimos a priori está na base do pensar, do sentir e «do que os infinitos possíveis em nós possibilitaram». Nestes 676 pequenos textos regista-se, pois, o questionamento profundo de um homem para lá e nos seus limites, medindo-se pelo impossível e respondendo a uma «negatividade voraz». Vergílio Ferreira escreve «ao apelo incerto do que nos faz sinais», sobre tudo (Deus, religião, política, arte, amor, Natureza, escrita, literatura, Europa, sentimentos, ambições, sensações...). Filosofa o presente, reavalia o passado. Pairando sobre tudo, a aproximação/preparação para o fim: «Morte, podes vir. Não faças cerimónia. Mas sê educada e não me maces muito.» O que fica de Vergílio Ferreira é tanto ou mais do que ele foi.

Pensar, Vergílio Ferreira, Quetzal, 312 págs., 17.70 euros

SOL/ 01-03-2013
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)