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de Abril de 1967, em NY, Igreja de Riverside, Martin Luther King, afirma: «Se a
alma da América morrer totalmente envenenada, no seu atestado de óbito constará:
“Vietname”.» O movimento antiguerra massificara-se e muitos ativistas (sobretudo
jovens) advogam o recurso à ação direta, pacífica ou violenta e ilegal, como única
forma de combate eficaz contra uma política tida também por violenta e ilegal. Alguns,
passam à prática radical, com atentados bombistas. Três décadas mais tarde, vários
deles vivem ainda na clandestinidade, após complexas reinvenções de si mesmos. É
o caso de Mary (agora Louise) e de Bobby (agora Nash), protagonistas de Destruir a Prova, da norte-americana
Dana Spiotta. A ação do romance cobre três décadas (1972 a 2000) e sustenta o
que Louise diz agora ao seu filho de 15 anos, Jason: «Não podes olhar para o que fizemos em abstrato.»
Finalista
do National Book Award em 2006, Destruir
a Prova é um poderoso testemunho sobre as formas de contestação juvenil nos
anos 70 e na atualidade. Explora as perspetivas de várias personagens em
processos de afirmação e busca de identidade e acentua que todas elas recusam
instintiva ou racionalmente o sistema. Hoje, ex-líderes ativistas como Tom
Hayden condenam em absoluto o uso da
violência e justificam atos passados situando-os em «tempos ferozmente violentos
e explosivos». Entretanto, deram lugar aos revoltados pós-modernos, miúdos suburbanos
e iconoclastas que, segundo Nash (acolhe-os e aos seus encontros na livraria
progressista onde trabalha), se intitulam «experimentadores
e não organizam manifestações nem protestos, mas experiências». Talvez só mesmo a música ou o cinema se mantenham
como formas de contracultura transversais a várias gerações (como em Louise e
Jason) e daí o seu valor documental. Dana Spiotta sugere-o logo no título original,
Eat the Document, colhido no documentário
homónimo no qual Bob Dylan registou a sua lendária digressão, com os Hawks,
pelo Reino Unido, em 1966. Destruir a
Prova documenta o que é sentir-se e estar à margem.
Destruir a Prova, Dana
Spiotta, Quetzal, 320 págs., 17.70 euros
SOL/ 22-03-2013
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)