Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

sábado, novembro 27, 2010

W. G. Sebald - Um Livro Por Dia


Sebald, modo de usar

Adverte-se o leitor para que, na leitura deste Os Anéis de Saturno, atente primeiro no tempo que corre fluido no virar das páginas. Em seguida, concentre-se na distância e no necessário movimento de afirmação da verdade e da mentira nas coisas e nas pessoas. Tempo, movimento e distância são marcas fundamentais na curta obra de W. G. Sebald, revelada em Portugal pela Teorema.
Winfried Georg Maximilian Sebald, nascido em 1944 numa aldeia dos Alpes da Baviera e falecido em 2001, com 57 anos, num acidente de viação, é um dos nomes-chave da literatura europeia dos anos noventa. Autor de culto, este professor de Literatura tornou-se nos seus últimos dez anos de vida o escritor-fantasma daqueles cujas vozes foram silenciadas. Austerlitz, o seu último romance (primeiro a ser traduzido para português, em 2004), História Natural da Destruição e Os Emigrantes: Quatro Contos Longos são também livros de fantasmas. Fantasmas da guerra e do Holocausto, fantasmas da arte europeia, fantasmas domésticos e fantasmas universais. Imagens espectrais que surgem também nas fotografias, mapas e ilustrações cobertos pelo grão do tempo a preencher as páginas de cada livro e a compor uma narrativa paralela à do texto.
Numa entrevista histórica concedida pouco antes de morrer, Sebald explicou a génese de Os Anéis de Saturno. Desde 1966 que trocara a Alemanha por um percurso académico em Inglaterra. Um dia, em 1994, teve a ideia de subsidiar uma viagem a pé ao longo da costa de East Anglia com a escrita de uma série de artigos para jornais alemães. Daí resultaram estes dez capítulos de uma pausada meditação viandante escrita na primeira pessoa.
“Nunca gostei de fazer as coisas sistematicamente. (…) Tem de se pegar em materiais heterogéneos de forma a levar a nossa mente a criar algo que não fizera antes.” Sebald, o caminhante, recolhe na paisagem sinais que evocam temas tão diversos como a escrita de Conrad, as telas de Rembrandt, a destruição da floresta, a China imperial, a infância em Berlim ou uma partida de dominó. Efabulação e realidade fundem-se num processo de descoberta determinado por coincidências e associações.
Romance, enciclopédia, autobiografia, livro de viagem? Tal como as restantes obras do autor, Os Anéis de Saturno é incatalogável graças à originalidade de uma forma narrativa. Sebald é uma voz misteriosa que movimenta o leitor através do tempo.

Os Anéis de SaturnoW. G. Sebald, Editorial Teorema, 296 págs.


SOL/ 25-11-2006
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)