Aquilo que tiver de ser meu, às mãos me há-de vir ter.
(aos 18 anos, quando era serralheiro mecânico)
Lembro-me de ter dito numa carta que escrevi ao Eduardo Lourenço: «Leva em conta que, como escritor, eu sou como os pretos e as mulheres. Tenho que valer duas vezes para ser reconhecido uma.» Se há luta, nem sequer se trata do facto de eu ter lutado para chegar a valer duas vezes e ser reconhecido uma. É antes esta consciência que eu sempre tive: «Meu caro, já sabes, não tenhas nenhumas ilusões, a ti ninguém te aceitará como és. E para que te aceitem, valer uma vez só não é suficiente, pode sê-lo para toda a gente, mas não para ti.»
[…] Tudo chega quando tem de chegar. No fundo, tudo chega quando tem de chegar.
(em Dezembro de 1998, pouco antes da entrega do Nobel da Literatura em Estocolmo)
© Filipa Melo/Visão