Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

quarta-feira, novembro 17, 2010

Manuel Hermínio Monteiro (1952-2001) - Uma memória



Poetas da edição

Militante, resistente, obstinada na defesa da poesia, a editora Assírio & Alvim comemorou 25 anos em 1997. Fica a memória de um grande editor e do seu re­la­to de re­sis­tên­cia, datado desse ano.

Co­me­çou pe­la mão de João Car­los Al­vim que, aos 20 anos, que­ria mu­dar o mun­do. En­tão re­dac­tor no Jor­nal do Co­mér­cio, de­ci­diu tro­car o ser­vi­ço da pe­na e, com aju­da fi­nan­cei­ra da mãe, abrir uma edi­to­ra que fi­zes­se uma re­sis­tên­cia in­te­lec­tual ao re­gi­me. Com ele, em­bar­ca­ram no pro­jec­to As­sí­rio Ba­ce­lar (Ve­ga), Jo­sé An­tu­nes Ri­bei­ro (Ul­mei­ro) e Má­rio Reis (Ar­co­–Íris). No dia 12 de No­vem­bro de 1972, foi fei­ta a es­cri­tu­ra e es­co­lhi­do o no­me, ao aca­so, en­tre os ape­li­dos dos só­cios. Sem olhar a meios, alheia a qual­quer ti­po de ges­tão co­mer­cial pro­vi­den­te, a As­sí­rio & Al­vim abriu, se­guin­do os ven­tos que en­tão cor­riam em Fran­ça e Es­pa­nha. «Que­ría­mos di­vul­gar no­vos tex­tos de so­cio­lo­gias em­pe­nha­das — não só aca­dé­mi­cos, mas com uma car­ga ideo­ló­gi­ca que, en­tão, fa­zia sen­ti­do —, tex­tos que com­pa­nhas­sem as mu­dan­ças que se ope­ra­vam.» A aten­ção à poe­sia e à li­te­ra­tu­ra mar­ca pre­sen­ça lo­go no iní­cio, com a edi­ção de An­to­lo­gia da Poe­sia Con­cre­ta em Por­tu­gal. En­tre cha­ma­das de aten­ção por par­te do SNI e vá­rios con­cí­lios en­tre os só­cios, a edi­to­ra en­tra ra­pi­da­men­te em pro­ces­so de rup­tu­ra fi­nan­cei­ra e, em mea­dos dos anos 70, é sal­va com a aju­da de Ho­me­ro Car­do­so e Con­cei­ção Te­les. João Car­los Al­vim é o úni­co só­cio que aguen­ta o bar­co até 1983. «A li­nha edi­to­rial che­gou a ser al­vo de ple­ná­rio. As es­co­lhas eram sem­pre as­su­mi­das co­lec­ti­va­men­te. Es­sa foi, ao mes­mo tem­po, a maior for­ça e fra­que­za da ca­sa», ex­pli­ca ho­je.
Ma­nuel Her­mí­nio Mon­tei­ro en­tra na edi­to­ra, em 1974, co­mo ven­de­dor, con­ci­lian­do es­sa ac­ti­vi­da­de com o cur­so de His­tó­ria. Fre­quen­tan­do vá­rios meios in­te­lec­tuais, ini­cia uma sé­rie de ami­za­des mar­can­tes pa­ra o fu­tu­ro da chan­ce­la — a que es­ta­be­le­ceu com Má­rio Ce­sa­riny re­sul­tou na sua co­la­bo­ra­ção em Poe­sia de An­tó­nio Ma­ria Lis­boa (1978), o livro que mar­ca uma vi­ra­gem de­ci­si­va na li­nha edi­to­rial. Re­cen­tra­da nu­ma aten­ção per­ma­nen­te à poe­sia, a ca­sa en­con­tra fi­nal­men­te um ru­mo, as­su­mi­do por Her­mí­nio a par­tir de 1983. Diz João Car­los Al­vim: «Ti­ro­–lhe o cha­péu por ter con­se­gui­do afir­mar a As­sí­rio co­mo um exem­plo úni­co de re­con­ver­são de su­ces­so.» De en­tão até ho­je, a sua his­tó­ria es­cre­ve­–se com re­la­tos de cum­pli­ci­da­des e mi­li­tân­cias, on­de par­ti­ci­pam al­guns dos no­mes mais mar­can­tes da poe­sia das úl­ti­mas duas dé­ca­das. Ho­je, es­ten­de­–se a uma li­vra­ria nos lis­boe­tas ci­ne­mas King, ou­tra, no Tea­tro Na­cio­nal Do­na Ma­ria II, e a inú­me­ros fo­cos de uma ac­ti­vi­da­de cul­tu­ral que cul­mi­na no ex­ten­so pro­gra­ma de co­me­mo­ra­ção do seu ani­ver­sá­rio. Co­mo um ca­so de su­ces­so de uma ló­gi­ca co­mer­cial apli­ca­da a um ni­cho de mer­ca­do on­de aflo­ra o es­pa­ço mar­gi­nal.
Nasceu em Novembro de 1972, como um projecto de luxo de algumas pessoas empenhadas em fazer, através dos livros, a resistência ao espírito vigente. Um ano depois, estava à beira da falência. Sobreviveu, abriu um novo espaço na edição de poesia portuguesa, cresceu graças à militância de todos aqueles que viram nela, e nos livros, um sinal de que os sonhos colectivos que fogem à lógica das massas são, afinal, possíveis. Quando comemora os seus 25 de anos de existência, a editora Assírio & Alvim celebra também uma existência expressa em alguns dos versos mais importantes das últimas décadas e uma forma singular de editar em Portugal. É disso que fala Manuel Hermínio Monteiro, 45 anos, director editorial da casa, esse rapaz da aldeia de Parada do Pinhão, Concelho de Sabrosa, que conquistou os leitores de poesia e os poetas portugueses sem nunca escrever um verso.

VI­SÃO: O que faz a di­fe­ren­ça en­tre a As­sí­rio & Al­vim e as ou­tras edi­to­ras por­tu­gue­sas?
MA­NUEL HER­MÍ­NIO MON­TEI­RO: A se­guir ao 25 de Abril, qua­se to­das se vol­ta­ram pa­ra o li­vro po­lí­ti­co ou de ciên­cias so­ciais. De­pois, fo­ram de­fi­nin­do es­pa­ços pró­prios. O maior mé­ri­to da As­sí­rio & Al­vim foi apos­tar num ele­va­do grau de exi­gên­cia na tra­du­ção e no as­pec­to grá­fi­co dos li­vros [ver caixa] e pri­vi­le­giar a poe­sia co­mo ne­nhu­ma ou­tra edi­to­ra. Va­lo­ri­zá­mos a poe­sia por­tu­gue­sa des­te sé­cu­lo, no­mea­da­men­te, tra­zen­do à to­na al­guns poe­tas me­nos re­co­nhe­ci­dos. Fi­ze­mo­–lo num mo­men­to [os anos 80] em que se co­me­çou a iden­ti­fi­car a li­te­ra­tu­ra por­tu­gue­sa ape­nas pe­la fic­ção, quan­do a pró­pria As­so­cia­ção Por­tu­gue­sa de Es­cri­to­res só ti­nha um pré­mio de fic­ção, quan­do a poe­sia era re­cu­sa­da até pe­los li­vrei­ros.

V: Por­que o pú­bli­co não res­pon­dia?
M.H.M.: O 25 de Abril, ape­sar de ter tra­zi­do a poe­sia pa­ra a rua — co­mo diz o pos­ter de Viei­ra da Sil­va —, ao mes­mo tem­po, es­con­deu-a. A ne­ces­si­da­de de prag­ma­tis­mo e de um dis­cur­so so­cial fi­ze­ram com que a poe­sia não militante se tor­nas­se qua­se um dis­cur­so de ocio­sos. A se­guir, as coi­sas mu­da­ram. E nós ti­ve­mos uma gran­de co­ta par­te nis­so, não só ao ní­vel da edi­ção, mas tam­bém com iniciativas co­mo os Anuá­rios de Poe­sia de Au­to­res Não Pu­bli­ca­dos [de 1984 a 1987], a re­vis­ta Pha­la [edi­ta­da des­de 1986], ou a co­la­bo­ra­ção com a Rá­dio Co­mer­cial, que, du­ran­te o mês de lan­ça­men­to do nú­me­ro es­pe­cial A Pha­la/Um Sé­cu­lo de Poe­sia [Abril de 1989], pas­sou em to­dos os no­ti­ciá­rios um poe­ma declamado de um au­tor por­tu­guês...

V: Des­co­bri­ram um pú­bli­co que não se sus­pei­ta­va que pu­des­se suportar uma edi­to­ra de poe­sia...
M.H.M.: Is­so de­ve­–se tam­bém a uma cer­ta ma­nei­ra de ser. Eu che­go à As­sí­rio com um gran­de co­nhe­ci­men­to do país e dos seus pe­que­nos ni­chos cul­tu­rais. Vinha da pro­vín­cia, ávi­do de co­nhe­cer e ver tu­do. Cir­cu­la­va bas­tan­te, o que me da­va pa­ra per­ce­ber o es­pí­ri­to do tem­po. Is­so aca­bou por se re­flec­tir na edi­to­ra, sem­pre muito des­cen­tra­li­za­da, vol­ta­da pa­ra o ex­te­rior, com pro­lon­ga­men­tos e ini­cia­ti­vas um pou­co por to­do o la­do. Ao lon­go dos anos, desenvolvemos um tra­ba­lho cul­tu­ral que não se res­trin­ge a produzir um li­vro e pô­–lo na rua.

V: Com que ti­po de gi­nás­ti­ca or­ça­men­tal?
M.H.M.: Ne­nhu­ma. Nun­ca ti­ve­mos qualquer in­jec­ção de di­nhei­ro. A As­sí­rio fez­–se gra­ças ao ca­pi­tal hu­ma­no de uma equi­pa com uma enor­me dis­po­ni­bi­li­da­de, fei­ta com gen­te es­co­lhi­da ape­nas por in­tui­ção: pes­soas que se ha­bi­tua­ram a ver aqui, mais do que um em­pre­go, um meio pa­ra fa­ze­rem um tra­ba­lho de in­ter­ven­ção cul­tu­ral de que gos­ta­vam.

V: Uma mi­li­tân­cia cul­tu­ral tão distante da lógica comercial que rege a maior parte das outras editoras...
M.H.M.: Acho que é is­so mesmo que nos dis­tin­gue delas. As me­lho­res opi­niões so­bre nós vêm de co­le­gas es­tran­gei­ros que ad­mi­ram, sobretudo, a nos­sa ca­pa­ci­da­de de re­sis­tên­cia. E que di­zem que, nos seus paí­ses, uma edi­to­ra com uma li­nha edi­to­rial exi­gen­te e in­ci­din­do na poe­sia te­ria sé­rias di­fi­cul­da­des de so­bre­vi­vên­cia. Nós con­se­gui­mos man­ter uma cer­ta mar­gi­na­li­da­de — no sen­ti­do des­sa exi­gên­cia e pre­cio­sis­mo que são apa­ná­gios das pe­que­nís­si­mas e mar­gi­nais edi­to­ras — e, ao mesmo tempo, uma pre­sen­ça e res­pei­ta­bi­li­da­de que su­pe­ram o es­ta­tu­to mar­gi­nal. Es­te equi­lí­brio é que me parece ra­ro.

V: Uma mi­li­tân­cia em vias de ex­tin­ção?
M.H.M.: Se, an­tes do 25 de Abril, ha­via uma re­sis­tên­cia que era mais po­lí­ti­ca, ho­je em dia, ela de­ve ser mais cul­tu­ral pe­ran­te a me­dia­nia, a mas­si­fi­ca­ção, o des­lei­xo cul­tu­ral que se vai im­pon­do na so­cie­da­de por­tu­gue­sa. E os re­sis­ten­tes, in­fe­liz­men­te, sem­pre fo­ram pou­cos. A nossa é uma militância pela poesia, pelas coisas de que gostamos, pelos autores que publicamos. E, obviamente, o papel do editor não é só fazer o livro: tem de o divulgar. A tarefa do editor desde o momento em que acredita num escritor e o põe na rua é defender e fazer o mais possível para o levar ao conhecimento das pessoas.

V: Mes­mo quando fazem certas ce­dên­cias a uma ló­gi­ca mais co­mer­cial…
M.H.M.: Não fa­ze­mos ce­dên­cias. Em Por­tu­gal, aten­den­do ao nú­me­ro de lei­to­res e à po­pu­la­ção do país, era qua­se im­pos­sí­vel exis­tir uma edi­to­ra, por exem­plo, co­mo a ma­dri­le­na Hi­pé­rion, que só edi­ta poe­sia. Te­mos de atin­gir di­ver­sos le­ques de pú­bli­co.

V: O que le­va a pro­pos­tas tão di­ver­sas co­mo, por exem­plo, Da­qui Nin­guém Sai Vi­vo [bio­gra­fia de Jim Mor­ri­son, um dos seus maio­res êxi­tos edi­to­riais] ou Jar­dim de Poe­sias Eró­ti­cas do «Si­glo de Oro»?
M.H.M.: Des­de o iní­cio, a As­sí­rio tem o le­ma de que os li­vros se fa­zem pa­ra ser dis­cu­ti­dos, não são uma pas­ti­lha, um pro­gra­ma que se im­pin­ge. Po­de­mos tra­tar qual­quer pro­pos­ta, des­de que o fa­ça­mos com qua­li­da­de. Não im­po­mos um ti­po de gos­to, ape­nas va­mos trans­mi­tin­do os nos­sos gos­tos vá­rios.

V: O pro­gra­ma de poe­sia re­flec­te es­co­lhas mui­to es­pe­cí­fi­cas...
M.H.M.: Mas mui­to eclé­ti­cas tam­bém. Edi­tá­mos poe­sias tão dis­tin­tas co­mo a de Tei­xei­ra de Pas­coaes e a de Cummin­gs, a de Ro­bert Lowell e a de Gas­tão Cruz, a de Jo­sé Agos­ti­nho Bap­tis­ta e a de Se­bas­tião Al­ba. No en­tan­to, não te­nho a mí­ni­ma dú­vi­da de que são poe­sias de gran­de qua­li­da­de. Es­ta di­ver­si­da­de per­mi­te­–nos dar a ideia da plu­ra­li­da­de de di­ze­res. Po­de­mos mes­mo fa­zer uma pe­que­na his­tó­ria da poe­sia por­tu­gue­sa des­te sé­cu­lo: com Teixeira de Pas­coaes, Má­rio de Sá­–Car­nei­ro, Fer­nan­do Pes­soa, An­tó­nio Pa­trí­cio, Ed­mun­do Betten­court , de­pois, nos anos 40, com Ruy Ci­natti, a poe­sia dos anos 50, Her­ber­to Hel­der, a poe­sia de 61 — de Ca­si­mi­ro de Bri­to, Fia­ma Has­se Pais Bran­dão, Gas­tão Cruz e Lui­za Ne­to Jor­ge — e, de­pois, to­da aque­la poe­sia que vem por aí fo­ra: João Mi­guel Fer­nan­des Jor­ge, Jo­sé Agos­ti­nho Bap­tis­ta, Joa­quim Ma­nuel Ma­ga­lhães, An­tó­nio Fran­co Ale­xan­dre, Al Ber­to, e ca­sos iso­la­dos co­mo o An­tó­nio Gan­cho. Qua­se to­da a poe­sia que se foi pro­du­zin­do nes­tes 25 anos aca­bou por pas­sar por aqui, es­pon­ta­nea­men­te.

V: Es­pon­ta­nea­men­te, os poe­tas fi­ca­ram tam­bém a de­ver­–vos mui­to.
M.H.M.: Nós é que so­mos sem­pre de­ve­do­res a es­sa es­pé­cie de enor­me via lác­tea que eles dei­xam e que é a poe­sia. Fui de­ve­dor deles mal os co­me­cei a ler. De­pois de os co­nhe­cer, fi­quei em dí­vi­da pe­las coi­sas ín­ti­mas, im­por­tan­tís­si­mas pa­ra a mi­nha vi­da, que me pro­por­cio­na­ram. Fui cres­cen­do aqui no in­te­rior da ca­sa, apren­den­do com es­ta gen­te to­da um mo­de­lo de pen­sar, um mo­do anár­qui­co em ter­mos de co­nhe­ci­men­to, em que se mis­tu­ra mui­to a in­tui­ção com a sen­si­bi­li­da­de, o ver poé­ti­co das coi­sas. Os au­to­res da As­sí­rio é que a pres­ti­giaram, lhe deram esta forte presença.

V: Con­se­guir a ex­clu­si­vi­da­de de di­rei­tos da obra de Fer­nan­do Pes­soa é uma es­pé­cie de me­da­lha de ou­ro...
M.H.M.: É ex­trao­rdi­na­ria­men­te im­por­tan­te. Por um la­do, pe­la im­por­tân­cia da sua obra e pe­lo fac­to de a po­der­mos pu­bli­car cor­rec­ta­men­te. Por ou­tro, por­que Pes­soa, so­bre­tu­do em ter­mos in­ter­na­cio­nais, po­de abrir­–nos por­tas pa­ra a pas­sa­gem de ou­tros poe­tas por­tu­gue­ses de ex­ce­len­te qua­li­da­de, que, por uma sé­rie de cir­cuns­tân­cias, não es­tão su­fi­cien­te­men­te di­vul­ga­dos no es­tran­gei­ros: Her­ber­to Hel­der, Ce­sa­riny, An­tó­nio Ma­ria Lis­boa...

V: A As­sí­rio tem ca­pa­ci­da­de pa­ra su­por­tar as ne­ces­sá­rias edi­ções crí­ti­cas de Pes­soa?
M.H.M.: Não va­mos fa­zer edi­ções crí­ti­cas com o apa­ra­to de no­tas das que têm saí­do. É evi­den­te que, em ter­mos de in­ves­ti­ga­ção, es­ta­mos a con­tar com o apoio do Es­ta­do. É pre­ci­so fa­zer­–se um tra­ba­lho de sa­pa de in­ves­ti­ga­ção, uma no­va or­ga­ni­za­ção dos do­cu­men­tos, a lei­tu­ra dos ma­nus­cri­tos... Tu­do is­to é um pro­ble­ma de in­ves­ti­ga­ção e não de edi­ção. São ques­tões cul­tu­rais que ul­tra­pas­sam a edi­to­ra.

V: Qual é o pro­gra­ma de edi­ção pre­vis­to?
M.H.M.: Já temos uma equi­pa a tra­ba­lhar [com­pos­ta por pes­soa­nos co­mo Fer­nan­do Ca­bral Mar­tins, Luí­sa Me­dei­ros, Ma­nue­la Par­rei­ra da Sil­va ou Te­re­sa Ri­ta Lo­pes] e um pro­gra­ma de edi­ção de­li­nea­do. Pa­ra­le­la­men­te, que­re­mos criar uma re­vis­ta que di­vul­gue to­dos os tex­tos de in­ves­ti­ga­ção, por­tu­gue­ses e es­tran­gei­ros, so­bre Fer­nan­do Pes­soa. So­bre­tu­do, va­mos ter uma gran­de preo­cu­pa­ção de ri­gor. Tra­ta­–se de uma ree­di­ção com­ple­xa porque é pre­ci­so con­fe­rir os tex­tos no ori­gi­nal. Te­nho to­das as edi­ções por­tu­gue­sas de Pes­soa e cons­ta­to que, em al­gu­mas de­las, os or­ga­ni­za­do­res al­te­ra­ram li­nhas in­tei­ras de tex­to, rees­cre­ven­do-o a seu bel pra­zer. A nos­sa maior preo­cu­pa­ção é a de edi­tar obras que se­jam de re­fe­rên­cia, sem er­ros, ri­go­ro­sas. Era mui­to fá­cil se assumíssemos Pessoa apenas numa pers­pec­ti­va co­mer­cial: pe­gá­va­mos nas edi­ções da Áti­ca, e era só im­pri­mir pa­pel e ga­nhar di­nhei­ro. Queremos fazer um trabalho de fundo, de referência.

V: O que implica um crescimento da editora que pode comprometer o seu espírito familiar e militante...
M.H.M: Se isso acontecesse, deixava de ser editor.

* De­sign & le­tras *

A ima­gem grá­fi­ca foi sem­pre um dos maio­res trun­fos da As­sí­rio & Al­vim

Li­vros lim­pos, só­brios, on­de as pá­gi­nas res­pi­ram ao sa­bor das le­tras. São as­sim os vo­lu­mes da As­sí­rio & Al­vim, cu­jo de­sign grá­fi­co é, des­de 1976, con­ce­bi­do por Ma­nuel Ro­sa, 43 anos. A aven­tu­ra co­me­çou com a ami­za­de por Her­mí­nio Mon­tei­ro e le­vou es­te es­cul­tor a uma área on­de ain­da ho­je se mo­ve co­mo um cu­rio­so vi­si­tan­te. «Por­que não sin­to que te­nha a mes­ma preo­cu­pa­ção dos de­sig­ners grá­fi­cos com os as­pec­tos mais téc­ni­cos. Pa­ra mim, aci­ma de tu­do, es­tá o li­vro en­quan­to ob­jec­to que de­ve in­te­res­sar aos lei­to­res, ter uma lei­tu­ra agra­dá­vel e res­pei­tar o es­pí­ri­to dos au­to­res.» O mais des­po­ja­dos pos­sí­vel de ar­ti­fí­cios, os li­vros da As­sí­rio fo­gem a es­té­ti­cas su­jei­tas a mo­das, pro­cu­ram ade­quar o ti­po de lin­gua­gem grá­fi­ca ao pro­gra­ma edi­to­rial em cau­sa. «Pro­cu­ra­mos que o gra­fis­mo es­te­ja ao ser­vi­ço do tex­to e que não se­ja rí­gi­do ao pon­to de o es­par­ti­lhar.» No iní­cio, não hou­ve uma es­tra­té­gia de­ter­mi­na­da, ape­nas um ca­mi­nho que «acon­te­ceu na­tu­ral­men­te» e que re­sul­tou nu­mas das mais for­tes ima­gens grá­fi­cas do mer­ca­do edi­to­rial por­tu­guês. 

VISÃO Nº245/Novembro de 1997
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)