Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

domingo, novembro 14, 2010

Henning Mankell - Um Livro Por Dia


O peso da culpa

“Não nos conhecemos uns aos outros”, diz Kurt Wallander, o comissário de polícia criado pelo sueco Henning Mankell. Se toda a literatura contraria a inevitabilidade desta afirmação, esse impulso é notório no caso do romance policial nórdico. Mais do que a construção de um enredo à volta de cenários de crime, o que move autores como Mankell (que vive entre a Suécia e Maputo, onde dirige o Teatro Avenida) é a indagação de uma verdade realista: por que se mata? por que se morre? “Um Passo Atrás”, sétimo policial do autor, prossegue a procura de respostas para a banalidade do mal.
Esclareça-se já que neste romance existe um assassino em série e que também isso o distingue do romance policial mediterrânico, representado por Manuel Vázquez Montalbán ou Andrea Camilleri e ligado à descrição de problemas sociais, mas também à ironia, à fé na humanidade e aos prazeres da vida. Tal como defende o autor norueguês K. O. Dahl: “Os assassinos em série aparecem no mundo protestante e não no católico. Talvez os nórdicos tenham a ira mais contida do que os mediterrânicos. É um nível psicológico, uma pressão que vai aumentando quando não temos a oportunidade de nos libertarmos dos pecados.” Mankell e o seu comissário Wallander conhecem bem as expressões dessa culpa e exprimem-nas desde o seu primeiro encontro, em “Assassino Sem Rosto”, de 1991.
Wallander é o protagonista típico do romance nórdico e valeu a Mankell o Grande Prémio da Academia Sueca de Literatura Policial. Ao contrário do chavão do detective duro e solitário, divide o seu trabalho com uma vida doméstica e quotidiana banais. Em “Um Passo Atrás”, acaba de perder o pai, preocupa-se com um diagnóstico de diabetes, com o que sente perante o homicídio de um colega ou a filha, Linda, que se tornará inspectora de polícia. No estilo directo e sucinto de Mankell, ele é um sujeito comum, que tem medos e pesadelos e se interroga sobre o préstimo da sua acção na pequena cidade de Ystad quando a criminalidade aumenta vertiginosamente na Suécia e o sistema judicial parece ter capitulado. Em tensão crescente, acompanhamo-lo até ao assassino, alguém que detestava ver pessoas a rir.
Embora publique muita da melhor literatura policial contemporânea, a colecção “Fio da Navalha”, da Presença, peca por vezes por atraso na publicação. “Um Passo Atrás” chega a Portugal nove anos após a edição original e já ultrapassado por outros dois volumes da série Wallander.

Um Passo Atrás, Henning Mankell, Editorial Presença, 424 págs.


SOL/ 14-06-2006
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)