O último a rir
O prémio Man Booker é atribuído pela primeira vez a um romance cómico
Anunciado no passado dia 12, o Man Booker Prize for Fiction 2010 seguiu direitinho para as mãos do escritor, jornalista e humorista Howard Jacobson. Pela primeira vez em 42 anos de história do prestigiado prémio britânico, distinguiu-se um romance cómico, The Finkler Question (Bloomsbury), com três votos do júri a favor e dois contra. Presente na 'long list' em 2002 (com Who's Sorry Now) e em 2006 (Kalooki Nights), Jacobson surpreendeu todos ao bater os principais favoritos da 'short list' deste ano: Tom McCarthy (com C, descrito como o romance de um pós-modernista lírico) e Peter Carey (cujo brilhante Parrot e Olivier na América poderia tê-lo feito tri-vencedor do galardão). Com onze livros de ficção editados desde 1983, a bibliografia de Jacobson inclui títulos de não-ficção, como Roots Schmoots: Journeys Among Jews (1993) e Seriously Funny: From the Ridiculous to the Sublime (1997), ambos adaptados para séries de televisão. The Finkler Question é um ambicioso exercício de humor sobre o que significa hoje ser-se judeu na Grã-Bretanha.
Howard Jacobson, nascido em 1942 em Manchester, descreve-se como «uma Jane Austen judia». Não frequenta a sinagoga, mas diz-se fiel herdeiro da cultura da diáspora judaica. Insiste na judeicidade da sua escrita, perfilando-se numa tradição de humor que, com Woody Allen à cabeça, se associa à inteligência baseada num complexo equilíbrio entre auto-depreciação e orgulho de pertença (expressão máxima na in-joke, típica piada judia). Da mesma matéria é feita a história de Julian Treslove, 49 anos, um frustrado produtor na elitista Radio 3 da BBC que se rói de inveja pelo sucesso do seu ex-colega de escola, Sam Finkler, filósofo pop, autor de bestsellers como Um Existencialista na Cozinha ou Manual da Menstruação. O que Treslove deseja acima de tudo é ser um judeu, como Sam ou o ex-professor de ambos, o checoslovaco Libor Sevick, biógrafo de estrelas de cinema. The Finkler Question é um hino ao reencontro entre Julian e os recém-viúvos Sam (anti-sionista) e Libor (pró-israelita). Segundo Andrew Motion, presidente do júri do Man Booker, trata-se de um romance «muito inteligente e muito divertido», mas também «muito triste e melancólico», como «uma gargalhada no escuro». O público alvo são «os adultos que compreendem que a comédia e a tragédia estão intrinsecamente ligadas».
SOL/15-10-2010
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)