«Jovem heroína de Alice no País das Maravilhas (1865) e Alice Através do Espelho (1871), contos para crianças de Lewis Carroll. De certo modo projectada num universo fantástico, Alice, não é, afinal, mais do que uma rapariguinha inglesa educada no culto das boas-maneiras e que observa, imperturbável, as singularidades dos outros, desde que estas não contrariem os seus próprios interesses. A pequena Alice do livro adora os animais. Não espanta, pois, que o seu sonho seja quase só habitado por animais humanizados. Embora não lhes seja insensível, as crianças interessam-lhe pouco. É preciso fazê-la sair do mundo real para que se perca numa outra realidade, a do sonho e da lenda. Contudo, e apesar disso, ela sabe «que, para regressar à realidade, bastar-lhe-ia abrir os olhos». Mas por quê abri-los, se, desde que os mantenha fechados, lhe aparece um outro mundo e muito mais divertido? Este mundo que Alice descobre não é propriamente um reino de fábula, mas antes uma longa viagem deliberada até ao país do «sem-sentido». Todavia, nesta aventura, ela permanece de cabeça fria. Clarividente, segue apaixonadamente o jogo sem jamais se deixar levar totalmente por ele. As múltiplas transformações sofridas pelo seu corpo - ora gigante, ora anã - não chegam a assustá-la: despertam a sua curiosidade e, até certo ponto, divertem-na. O fundo da natureza de Alice é uma confiança ingénua e inabalável.»