Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

quinta-feira, junho 30, 2011

Nabokov | Nas asas da borboleta


A edição por cá de grande parte da obra de Vladimir Nabokov (1899-1977) é um dos maiores legados dos vinte anos de Carlos Veiga Ferreira à frente da Teorema (em Outubro próximo, o editor apresentará os primeiros títulos da sua nova editora, a Teodelito). Regressa às livrarias o primeiro volume dos Contos Completos, de 2003 e há muito esgotados. A colectânea integral, com tradução de Telma Costa, junta aos 52 contos arrumados pelo escritor (os que ele achava merecedores da língua inglesa) outros 13, seleccionados e depois todos organizados cronologicamente pelo tradutor e filho do autor Dmitri Nabokov. Escritas entre o início dos anos 20 e meados dos 50, estas narrativas curtas representam uma amostra furta-cores da genialidade do autor de romances como Lolita, Fogo Pálido e Ada ou Ardor, tão intensa como uma trovoada, tão exuberante como as asas dos seus adorados lepidópteros (tema central do conto «O Aureliano»).
No prefácio, Dmitri Nabokov destaca a concisão e acessibilidade desta prosa contística. A par do registo para-biográfico do jovem na Rússia, do universitário em Inglaterra ou do exilado em Berlim, em França e nos EUA e da expressão de gostos curiosos como pela música, pela pintura, pelo ténis ou pelo alpinismo, «o tema talvez mais profundo, mais importante, seja ele central ou subterâneo, é a aversão de Nabokov à crueldade — a crueldade humana, a crueldade do destino».
O conto de estreia, de 1921, é assinado «Vladimir sirin» e, como indica o pseudónimo escolhido, apresenta Nabokov, essa espécie de pássaro das fábulas russas. Há um génio do bosque que se transforma em ser humano porque se perdeu na cidade de pedra. Revela-se já no escritor esse desejo muito particular de imitação do mundo, conjugando o olhar científico sobre ele (traduzido na «paixão pela precisão e pelo design complexo») com o desenho impressivo de um conto de fadas. «A dignidade cintilante de um feiticeiro torna cada frase um potencial momento mágico», aponta também o crítico John Updike. E contrapõe: «A prosa dele é festiva, embora as suas personagens estejam amaldiçoadas.» Leia-se, como exemplo, «Terror». E sigam-se as instruções um dia dadas por Nabokov aos seus alunos: «Acariciem os detalhes: os divinos detalhes!»

Contos Completos (Vol. I), Vladimir Nabokov, Teorema, 384 págs.


SOL/17-06-2011
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)