Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

W.B. Yeats | A caminho de Innisfree


A complementar a antologia da poesia de William Butler Yeats (1865-1939, Nobel da Literatura em 1923) com tradução de José Agostinho Baptista (Assírio & Alvim, 1996), regressa agora às livrarias uma outra seleção da obra do grande poeta irlandês, esta assinada e traduzida por Maria de Lourdes Guimarães e Laureano Silveira e aumentada em relação à edição original, datada de 1993. Os Pássaros Brancos e Outros Poemas apresenta 70 poemas escritos entre 1889, ano do segundo livro de poesia de Yeats, e 1939, o da sua morte. Entre os poemas acrescentados, leia-se este curto «Um Casaco»: «Talhei para a minha poesia/ Um casaco cheio de bordados/ Tirados das velhas mitologias/ Desde os pés ao pescoço;/ Mas os loucos tiraram-mo,/ Usaram-no aos olhos do mundo/ Como se eles o tivessem feito./ Poesia, deixa que o levem,/ Pois há mais audácia/ Em caminhar nu.»
Laureano Silveira explica que, por se tratar de uma poesia marcada pela dramaticidade e musicalidade, os tradutores prestaram reforçada atenção «à valoração do ritmo» e respeitaram «o tom retórico que contribui para a definição das atmosferas emocionais». Dividida pelo próprio em dois grandes períodos (situáveis antes e depois de O Vento Por Entre os Juncos, de 1899), a obra de W. B. Yeats inicia-se num grito contemplativo dos mistérios da vida e do amor e da forma e passagem do tempo, herança da poesia de Spenser, do romântico Shelley, do crítico Walter Pater, dos pré-rafaelitas ou dos simbolistas franceses. Então, escreve: «Quem me dera que fôssemos, amor, pássaros brancos sobre a espuma do mar!» Patriota, enaltece a «irishness», a mitologia e o folclore, as qualidades da Irlanda: «Quero erguer-me e partir já, ir para Innisfree,/ E construir ali uma cabana de barro e juncos:/ Ter ali nove leiras de feijão, uma colmeia,/ E entre o zumbido das abelhas na clareira viver só.» É o poeta atento à alma e à natureza numa espécie de sonho acordado. Numa segunda e mais extensa fase, a poesia de Yeats atinge o auge na conjugação de uma linguagem mais física e direta (influência de Ezra Pound) com uma singular visão simbólica e espiritualista. A orgulhosa música da poética de Yeats, a da palavra justa com alcance hermético e atitude crítica, será um espaço aberto ao modernismo.

Os Pássaros Brancos e Outros Poemas, W. B. Yeats, Relógio D’Água, 198 págs.

SOL/ 10-02-2012
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)