Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

segunda-feira, janeiro 27, 2014

Zadie Smith | Sair do bairro


Zadie Smith varia o estilo enquanto as personagens não mudam de vida. Leah, a que «nunca vai a parte nenhuma», não quer engravidar e «seguir em frente». Felix, mecânico e ex-toxicodependente, quer «passar para o nível seguinte». Natalie, a advogada negra que subiu na vida travestindo papéis e «seguindo o dinheiro», agora deseja «esgueirar-se para dentro». Nathan,  viciado em crack, continua em «queda» permanente tal como o subúrbio onde se move, mas sabe que «devia era fugir de [si] mesmo».
Leah, Felix, Natalie e Nathan protagonizam o quarto romance de Zadie Smith (n. 1975), intitulado NW, as iniciais do código postal da zona de Willesden, onde fica Caldwell, o bairro social (fictício) onde cresceram e (à excepção de Felix) se conheceram. «NW, um lugar pequeno» serve a obra mais experimental desta talentosa autora inglesa, encruzilhada de vidas que se tocam na grande cidade.
Durante sete anos, Zadie Smith criou e limou esta «novela negra» como «expressão genuína da [sua própria] existência», uma mistura de crónica sobre a (i)mobilidade social e excursão existencial. Para isso, regressou ao espaço multi-étnico no noroeste londrino onde cresceu, pobre, filha de uma jamaicana e de um inglês e a primeira da família a frequentar a universidade. Seguiu-se um intenso trabalho de fusão das técnicas modernistas (com fortes influências de Virginia Woolf e James Joyce) e realistas (E.M. Forster ainda anda por aqui, mas é sobretudo Dickens o fantasma de parte da obra).
Assim nasceu esta tragicomédia em cinco partes, cada uma concentrada num dos protagonistas e com técnica e tom próprios. O diálogo permanece o prato-forte, mas a proposta é bem menos divertida e mais pessimista do que as anteriores. Ilustrando problemas sociais e dilemas morais, NW é assumido na linha das peças-problemas de Shakespeare. Aqui, as personagens movem-se no tempo, mas estão suspensas, sem solução, num território físico e interno.

NWZadie Smith, Dom Quixote, 411 págs., 17.45 euros

SOL - 08/11/2013
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)