Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Zink & Gonçalves | Um casamento perfeito



 Como ligar palavra e imagem e criar novas propostas narrativas? O desafio tem ocupado um lugar central na obra de Rui Zink, como excepção entre os autores portugueses contemporâneos. Foi já empenhado em «experimentar grafismos e figuras de estilo originais» para a banda desenhada que, entre 1991 e 1994, Zink assinou com Manuel João Ramos o Projecto Major Alverca/Alverquinha, primeiro publicado n’«O Independente» e depois editado pela Dom Quixote. A esta primeira subversão dos géneros tradicionais, sucedeu-se, em 1997, a novela gráfica «A Arte Suprema» (Edições Asa), em co-autoria com o ilustrador e artista visual António Jorge Gonçalves. Dez anos depois, a mesma dupla propõe «Rei», forte candidato a ser o mais original dos livros portugueses editados em 2007.
«Rei» é novamente uma novela gráfica, mas leva mais longe o que os autores conseguiram em «A Arte Suprema» com «a história de Idalina, uma mulher-a-dias que não compreende o seu próprio destino, quanto mais o mundo». Aqui, narra-se o percurso de Nuno, um praticante de artes marciais que parte para o Japão para «ir beber à fonte» e será, um ano depois, procurado pela mãe, a implacável Teresa, acompanhada por um mestre de karaté. Pelo meio, surge Rei, que é, em simultâneo, uma rapariga, uma princesa virtual e uma força manipulada com recurso à nanotecnologia. Em cada página, expõem-se a fragilidade das personagens contra um mundo externo agressivo e a harmonia da arquitectura óptica e narrativa.
 
Diluído o uso de vinhetas e filacteras, a distribuição de texto e imagem passou a explorar todos os ângulos das duplas páginas como principal elemento de articulação e coesão. «Rei» situa-se num espaço híbrido entre o romance e a banda desenhada e, com recurso apenas a curtos diálogos entre as personagens, investe sobretudo na leitura visual de diferentes focalizações narrativas. A estas últimas, António Jorge Gonçalves responde com versatilidade, assumindo desde o realismo mais cru aos traços mais abstractos e até a contaminação de referências (quer elas sejam o universo da Walt Disney, os desenhos de João Abel Manta ou um logótipo comercial). O resultado é um casamento excepcional entre duas linguagens que se equilibram de forma poética na construção de novas possibilidades para o formato livro.

Rei, António Jorge Gonçalves e Rui Zink, Edições Asa, 328 págs.

SOL/ 20-10-2007
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)