«Rei» é novamente uma novela gráfica, mas leva mais longe o que os autores conseguiram em «A Arte Suprema» com «a história de Idalina, uma mulher-a-dias que não compreende o seu próprio destino, quanto mais o mundo». Aqui, narra-se o percurso de Nuno, um praticante de artes marciais que parte para o Japão para «ir beber à fonte» e será, um ano depois, procurado pela mãe, a implacável Teresa, acompanhada por um mestre de karaté. Pelo meio, surge Rei, que é, em simultâneo, uma rapariga, uma princesa virtual e uma força manipulada com recurso à nanotecnologia. Em cada página, expõem-se a fragilidade das personagens contra um mundo externo agressivo e a harmonia da arquitectura óptica e narrativa.
Diluído o uso de vinhetas e filacteras, a distribuição de texto e imagem passou a explorar todos os ângulos das duplas páginas como principal elemento de articulação e coesão. «Rei» situa-se num espaço híbrido entre o romance e a banda desenhada e, com recurso apenas a curtos diálogos entre as personagens, investe sobretudo na leitura visual de diferentes focalizações narrativas. A estas últimas, António Jorge Gonçalves responde com versatilidade, assumindo desde o realismo mais cru aos traços mais abstractos e até a contaminação de referências (quer elas sejam o universo da Walt Disney, os desenhos de João Abel Manta ou um logótipo comercial). O resultado é um casamento excepcional entre duas linguagens que se equilibram de forma poética na construção de novas possibilidades para o formato livro.
Rei, António Jorge Gonçalves e Rui Zink, Edições Asa, 328 págs.
SOL/ 20-10-2007
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)