Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

segunda-feira, novembro 22, 2010

Luis Fernando Verissimo - Um Livro Por Dia


A prosa de Luis Fernando Verissimo regressa com o lançamento simultâneo de Os Espiões em Portugal e no Brasil. Entre mais de sessenta títulos publicados e cinco milhões de exemplares vendidos, esta é a sexta narrativa longa do escritor gaúcho, a primeira escrita por ímpeto próprio e não por encomenda. Como é hábito, a intriga apresenta-se despretensiosa, mas culta, divertida e delirante.
O funcionário de uma pequena editora, boémio de meia idade e «frustrado em letras», recebe, em várias remessas, o intrigante original de uma candidata a escritora de Frondosa, uma cidade do interior. Ariadne assina os manuscritos com uma florzinha em cima do 'i', mas propõe-se confessar uma história de amor secreto, crime e vingança, e suicidar-se no fim. Fascinado com a alegoria ao mito grego (Ariadne é abandonada por Teseu, após o ter salvo do labirinto de Dédalo; Dionísio resgata-a para o amor eterno e, após a morte, ela transforma-se numa constelação de estrelas) e apaixonado pelo estilo trémulo e ingénuo da autora de 25 anos, o funcionário decide salvá-la. É assim que monta a «Operação Teseu», a caça a informações na qual envolve os seus amigos do bar do Espanhol: um vendedor de adubos, um poeta, um filósofo (o Professor Fortuna, pródigo em hilariantes considerações sobre literatura) e um astrólogo frustes, todos «mortos-vivos barulhentos mas inocentes», transformados em «espiões».
Os Espiões é um gozo ao thriller de espionagem e aos meios editoriais e mostra que, aos 73 anos, Verissimo conserva o humor aguçado e uma ágil forma estilística. O enredo de mistério e conspirações anedóticas funde-se com o jogo de metaficção e auto-ironia (a narração é feita na primeira pessoa, a do editor, que conduz o fio da história). Leitura prazeirosa, Os Espiões devora-se num ápice. Tem suspense, crime e plágio, caricatura e crónica de costumes, futebol e acusações de suborno. Acaba mal, mas até nisso tem piada.

Os Espiões, Luis Fernando Verissimo, Dom Quixote, 171 págs.

LER/ Janeiro 2009
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)